Machuca saber que sou uma mulher mediana, uma mulher considerada “normal”.
Desde pequena, eu sempre exalava aos quatro cantos do meu quarto a sensação de que, quando crescesse, seria grande, grandiosa mesmo. Minha mãe até dizia “não fale em voz alta!”, com medo do tal “olho gordo”, mas nunca tive medo. Eu sempre soube que seria incrível como mulher, sempre soube.
Até os 17 anos eu ainda achava. E aí veio a primeira reprovação no vestibular. Tudo bem, eu era nova. Mas, aos 22 anos, rumo aos 23, estou sem estudar, sem trabalhar, sem muitos amigos e sem uma vida social digna; isso mexe com a mente da mulher mediana. Saber que tenho um potencial desperdiçado em simulados e mais simulados aos domingos de manhã machuca. Saber que eu poderia estar no sexto ano de faculdade, vivendo a vida universitária, mas estou, na verdade, em casa machuca. Saber que só conheci o amor no meu poço, com você, machuca, porque gostaria que você tivesse me conhecido quando eu não estivesse mais nele, Saber que poderia ganhar qualquer prêmio, ser grandiosa mesmo, porque eu tenho inteligência suficiente para tal e não fazer nada em relação a isso machuca. Meu ponto é, estou maluca. Estou maluca por saber ter uma inteligência anormal que só se desperdiça no meu corpo. O segredo do mundo está se putrefazendo dentro de minhas entranhas.
Eu acho que loucura e inteligência são intrínsecas, sabia? Sabia sim, já falei pra você. Então, nessa lógica, não era para eu ficar tão mal porque estou maluca, certo?
Sou a verdadeira contradição dos meus pensamentos, traio-me constantemente. Sei que sou inteligente, acho que fui criada na vida para isso; não sei o que faria se não fosse, de verdade. Machuca saber que minha maior qualidade é ser soberba em relação ao meu intelecto; machuca, muito, saber que não estou vivendo o meu potencial.
Sim, sei que não sou mediana. Mas, ao mesmo tempo, sou. Aquela história do gato de Schrödinger, constante na minha vida.
Ser ou não ser, Hamlet? Acho que a minha resposta é: ser e não ser. Até lembrei da história de Parmênides. A Filosofia me atrai muito.
Não vou mais escrever sobre, sou uma mulher mediana e excepcional. Um dia eu conto se eu achei uma resposta verdadeira para a incógnita e contradição que vivem na minha cabeça.
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Voltei. Juntamente com uma crise de ansiedade. Sempre fui acompanhada por ela. Deve ser de família. Não acho que minha família goste de mim. Devaneios para uma próxima sessão.
Algumas vezes, quando a tenho, lembro da Sylvia Plath e seu medo de ser mediana. O mesmo medo que eu tenho, só que ela era genial, nada mediana, nada básica. Será que isso se aplica a mim? Um dia eu saberei, ou não. Tudo bem.
“What horrifies me most is the idea of being useless: well-educated, brilliantly promising, and fading out into an indifferent middle age.” Sylvia Plath
Estou melhor agora, meus batimentos estão mais equilibrados e a falta de ar está passando, assim como os devaneios estão indo embora.
Clarice Lispector queria morrer, não gostava de viver.
“Ah, viver é tão desconfortável. Tudo aperta: o corpo exige, o espírito não para, viver parece ter sono e não poder dormir - viver é incômodo. Não se pode andar nu, nem de corpo nem de espírito” - Clarice Lispector em Água Viva
Será que a loucura realmente é inerente à inteligência? Para o meu bem, vou acreditar que sim, porque me sinto louca, é normal?
Vou embora de verdade agora, não quero mais escrever, minha cabeça é bagunçada, não segue um raciocínio lógico, embora consiga solucionar muitos raciocínios lógicos por aí. Vai saber, devo ser um paradoxo.
Talvez seja isso que me faça excepcional. Ou mediana ou especial. Não sei.
vc não precisa ir atrás de ser especial quando vc ja é a pessoa mais especial do mundo… espero que um dia vc se enxergue da forma que te vejo. Te amo incondicionalmente